O vórtex, como evocação de vertigem, como ponto nevrálgico do mistério.

Conheci o Roberto Rosa há 12 anos quando trabalhávamos na Livraria da Travessa em Ipanema, no Rio de Janeiro. Uma das muitas pessoas talentosas que o ofício de livreira me permitiu encontrar por aí e por muita sorte ainda o tenho como um grande amigo.

No final de 2018, o Bob já não era mais livreiro de balcão, tendo se dedicado nos últimos anos ao Na Ponta do Lápis, projeto com ilustrações e poemas autorais que são vendidos nas livrarias do Rio de Janeiro. Tenho para mim que embora algumas pessoas encarem o trabalho em livraria como uma coisa passageira, a grande maioria nunca deixa de ser livreiro. O Bob é uma dessas pessoas. Eu também.

Uma releitura de Magritte na charmosa Livraria Lima Barreto.

Foi nessa época, durante a campanha do livro O DOUTOR NEGRO, de Conan Doyle, que ele criou essa arte que foi uma das recompensas da campanha de financiamento coletivo. Nós chamamos de Bookplate, mas o formato também conhecido como pôster.

Para a campanha de financiamento coletivo de CRIMES IMPOSSÍVEIS – a antologia de contos clássicos policiais, organizada, prefaciada e traduzida por Braulio Tavares – coube ao Bob criar a arte que ilustrou o prefácio (ele também ilustrou o ícone da série, que a editora da Bandeirola Sandra Abrano falou aqui).

Leia as palavras de Roberto Rosa sobre a ilustração e os artistas que o influenciaram:

“Quando fui convidado pela Bandeirola para fazer a ilustração temática para a coletânea de contos de crimes de quarto fechado, pensei em usar o caráter cartesiano de uma planta baixa, para a partir disto tentar desdobramentos até a construção de uma atmosfera de mistério. Julguei insólito, o que considerei bom, e, após algumas tentativas frustradas, em relação à transformação e manipulação do espaço, lembrei de como me impressionam os trabalhos do pintor dinamarquês Vilhelm Hommershoi, especificamente a ressonância de seus cômodos vazios, que têm a presença humana como algo temporalmente remoto, mesmo nos casos de uma figura humana representada.

Em seus cômodos, tempo e espaço se conjugam em algo elástico, espectral e de presença maior. Não à toa qualquer eventual presença humana parece deslocada, subjugada pela força destas dimensões em consonância. Então sobrepus a planta baixa à reprodução de um de seus cômodos, tendo usado como critério a nova quadratura que surgisse a partir das duas imagens.

Ida Reading a Letter, pintura de Vilhelm Hammershøi (1864–1916)

 Nesta quadratura, procurei explorar a ideia de vórtex, como evocação de vertigem, como ponto nevrálgico do mistério, ao que o corpo lançado no centro da imagem naturalmente surge como solução (qualquer semelhança com Vertigo, do Hitchcock, não é mera coincidência). Montada esta estrutura, fui tomando decisões sobre os pesos das áreas em seus claros, escuros e texturas, em execução mais minuciosa, trabalhando o alto contraste a partir do grafite.”

Cartaz do filme VERTIGO por Paramount Pictures Corporation. Arte de Saul Bass  (1920–1996), designer gráfico, realizador de cinema, desenhista, fotógrafo e artista gráfico norte americano.

Clique aqui para ler o prefácio na íntegra.

Roberto Rosa nasceu em 14/06/1979. Estudou na Escola de Belas Artes da UFRJ. É ilustrador e autor dos desenhos da série “Na Ponta do Lápis”. Siga a página no Instagram para acompanhar seu trabalho.

Ao lado das historiadoras Natália Guerellus e Simeia dos Santos, é autor da coluna “O que disse Eurídice”, sobre escrita de autoria feminina e regimes autoritários. Clique aqui para conhecer.

Trabalhando (de ressaca) na terça-feira de Carnaval, Livraria da Travessa, Ipanema/ RJ (2012).

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