Melville Davisson Post (1869 – 1930) foi um escritor americano nascido no condado de Harrison, West Virginia. Embora seu nome não seja imediatamente familiar aos leitores brasileiros, muitas de suas coleções ainda impressas lá fora e muitas coletâneas de ficção policial incluem obras de sua autoria. Ele criou diversos personagens, mas sem dúvida o mais famoso deles é Tio Abner, um puritano movido por uma fé inabalável na justiça divina. Os 22 contos do Tio Abner, escritos entre 1911 e 1928, foram considerados por muitos os “melhores mistérios já escritos”.

Vivendo em uma comunidade do interior da Virgínia Ocidental, em uma época anterior a Guerra Civil Americana, Tio Abner desvendava crimes em nome da fé. Como um profeta do Antigo Testamento, ele bradava com voz firme a justiça divina e aplicava a vara da correção. Um profundo conhecedor da Bíblia e das ações humanas. E era exatamente esse comportamento do personagem que o identificou como o primeiro detetive de Historical Mystery — o mistério policial embasado no pensamento, nos hábitos e na cultura de uma época específica da História

À primeira vista, talvez, Tio Abner cause um certo desdém em muitos leitores hoje em dia, devido aos seus discursos moralizantes. Contudo, o que, de fato, destaca o personagem de outros detetives, é que Tio Abner é um observador sem igual. Dos homens, dos animais, dos objetos e da própria natureza. Usando um raciocínio lógico, com base unicamente em seu olhar crítico, Abner é capaz de solucionar os mistérios mais improváveis.
Publicado pela primeira vez no The Saturday Evening Post, de 1914, “O Mistério de Doomdorf” é um dos contos mais celebrados do personagem, o que se justifica pela engenhosidade da narrativa e seu final inesperado.

Acompanhado pelo juiz Randolph, Tio Abner vai até a casa de um comerciante de bebidas que está causando um enorme prejuízo econômico e moral (e espiritual) na comunidade para tomar providências e desativar aquele antro de Satanás. O que eles não esperavam é que fossem se deparar com uma cena de assassinato. Teria a justiça divina chegado antes deles? Logo o leitor perceberá que esse é um mistério muito mais complexo do que parece. Afinal, como solucionar um caso em que o assassino não é o responsável pelo crime? É aí que entra a genialidade do Melville, que constrói uma narrativa onde a sensação de estranheza envolve constantemente o leitor, perdido em uma atmosfera de dúvidas (e medo!), impossibilitando-o de descobrir a verdade até o seu derradeiro e surpreendente final.
Como bem apontou Braulio Tavares: “Tudo pode ser visto de mais de uma maneira. O detetive é aquela pessoa que consegue ver da única maneira que faz caírem todas as fichas, e se torna assim o único a interpretar corretamente todos os fatos.”

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Outros contos que integram a antologia CRIMES IMPOSSÍVEIS:
O ROMNEY ROUBADO (1919) * Edgar Wallace.
A ADAGA DE ALUMÍNIO (1909) * R. Austin Freeman.
O SUICÍDIO DE KIAROS (1897) * L. Frank Baum.
A MORTE NA PRAIA (1922) * Maurice Leblanc.
O PROBLEMA DA CELA 13 (1905) * Jacques Futrelle.
A AVENTURA DA FAIXA MALHADA (1892) * Conan Doyle.
UMA PASSAGEM NA HISTÓRIA SECRETA DE UMA CONDESSA NA IRLANDA (1838) * Sheridan Le Fanu.
OS ASSASSINATOS NA RUA MORGUE (1841) * Edgar Allan Poe.
A MALDIÇÃO DO LIVRO (1933) * GK Chesterton.